Do outro lado da cidade, o neto ligou ao avô.
- Alô!
- Sou eu, vô!
- Oi, querido! Tudo bem?
- Tudo.
- Você tá legal?
- Tô. Sabe o que é vô?
- Não.
- A vó tá fazendo pizza?
- Não sei não. Por quê?
- Tô sentindo um cheirinho bom...
- É mesmo! Só agora estou sentindo. Só não sei do que é a pizza. Ando com o nariz entupido por causa da gripe.
- De calabresa, vô. Bem gostosa...
- É isso mesmo. Vem pra cá! Sua vó tá avisando que a pizza logo fica pronta.
- Tô indo vô.
- Como você vem?
- Minha mãe vai me levar.
- Ótimo! Estou esperando. Não demora!
- O avô desligou o telefone e ligou para a pizzaria encomendando uma pizza. Quando chegou, colocou-a no forno, para fingir que estava sendo feita.
Dias depois, a história se repetiu com o neto dizendo estar sentindo cheiro de churrasco. O avô correu ao açougue, armou a churrasqueira e viveu mais um dia feliz com seu neto.
No início do ano letivo, o menino veio com outra história:
- Vô!
- Fala querido!
- Sonhei que o senhor tinha uma mochila aí me esperando.
- É isso mesmo. Foi uma tremenda coincidência. Tenho aqui uma bem lindona. É azul. Vem correndo buscar e aproveita para me dar um abraço.
O avô foi à loja e realizou o sonho do neto.
Da última vez, foi o avô quem telefonou ao neto dizendo estar com uma nota na carteira esperando por ele.
- É mesmo vô?
- Claro! A nota está até mofando na minha carteira.
O menino veio e quis saber no que deveria gastar o dinheiro.
- No que você quiser.
- Legal, vô! - e deu o abraço esperado pelo avô.
No dia seguinte, o neto discou ao avô. Sua voz tinha um timbre de tristeza:
- Vô!
- Fala campeão! Que aconteceu?
- Nada não, vô.
- Então, por que essa voz sumida?
- Sabe o que é?
- Só vou saber se você me contar.
- O senhor não me deu dinheiro pra eu fazer o que quisesse?
- Claro! Isso foi combinado.
- O senhor também não falou que meu cabelo tá bonito?
- Muito. Falei porque é verdade.
- Então vô. Minha mãe quer que eu vá cortar o cabelo e pague com o meu dinheiro. O que eu faço da minha vida, vô?
O avô calculou de quanto dinheiro podia dispor. Quantos dias faltavam para receber o pagamento da sua aposentadoria. Fracassado, coçou sua careca. Sem saber o que fazer, respirou fundo e mergulhou no seu próprio mundo de menino, onde havia muitas tragédias da infância e disparou a resposta:
- Sua mãe é uma louca. Onde já se viu uma coisa dessas? Vai querer outro careca na família? Já não basta eu? Quer saber de uma coisa? Seu cabelo tá lindo mesmo. Não corta nada!
2 comentários:
Muito obrigado, pela postagem da minha crônica " O Avô e seu neto"
Forte Abraço!
Nelson Albissú
Olá Nelson... então... tive que postar essa crônica... pois me lembrei na hora do meu pai... e pensei nele... sobre como seria ele com seus netos hoje... =)
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